Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você… (música: ‘Nem um dia’ – Djavan)
O primeiro domingo do Inverno amanheceu bem frio.
Aos poucos, o Astro Rei deixou-se sair, e, timidamente seus primeiros raios foram ganhando em força e calor. Às 10 horas a temperatura já estava muito mais agradável.
As crianças já estavam acordadas e ansiosas. Esperavam que seus pais deixassem a preguiça na cama e levantassem para levá-las ao Parque.
E esperaram muito…
Então, depois de muito esperar e ver quase todos os canais da televisão, finalmente bateram à porta, até um deles abrir e se render à intimação: Queremos ir ao parque! Vamos, papai! Ande!
O quê fazer? Levantar, tomar café e atendê-los. Sem mais demora!
Chegaram ao Parque Cidade de Toronto.
Às 11h o playground do parque estava abarrotado de crianças.
Do outro lado, o Bosque da Leitura esperava um momento em que alguma criança se cansasse de brincar e fosse reciclar suas energias com os gibis, mangás e os livros novos que haviam chegado e estavam sendo preparados para o acesso do público.
Francie e Margarida estavam empolgadas com as novas aquisições do Bosque da Leitura. Atentamente, Francie verificava a listagem e, um a um etiquetava os números de tombo, enquanto Margarida procurava o melhor espaço para carimbar a identificação do Bosque da Leitura Parque Cidade de Toronto . Francie não se aguentava e folheava cada um deles, sem se dar conta dos minutos voando… Margarida carimbava e se entretinha com alguns livros; curtia cheirá-los, sentir as palavras em relevo e a textura do papel. Cada livro trazia um cheiro diferente, uma história fantástica e poesias que eram música para a alma…
Vejamos alguns dos livros que elas curtiram:
“A girafa tem torcicolo?” é um livro infanto juvenil muito empolgante, com muitas curiosidades ‘animais’. Seu autor, o biólogo Guilherme Augusto Domenichelli, soube muito bem encaixar as informações sobre o reino animal com ditos e frases populares, tais como: “ Memória de elefante”, “Lágrimas de crocodilo”, “Dormir com as galinhas”, “Abraço de Tamanduá”, “Abrira a calda de pavão”, “Estômago de avestruz”, entre outras curiosidades.
“Era uma vez… Era uma vez: eu. Mas aposto que você não sabe quem eu sou. Prepare-se para uma surpresa que você nem adivinha. Sabe quem eu sou?” E assim começa o livro de Clarice Lispector “ Quase de verdade”. No livro Clarice dá vez e voz a um cachorro que fica “latindo para Clarice e ela — que entende o significado de meus latidos — escreve o que eu lhe conto”
O clássico “Viagem ao centro da Terra”, de Julio Verne, ganha em poesia e arte com a adaptação de Costa Senna e belas ilustrações de Cristina Carnelós. Costa Senna com muita sensibilidade e competência transforma a prosa em poesia de cordel, e olhem como a aventura começa:
“Final de mil e oitocentos do ano sessenta e três, começava essa história, Maio era este o mês E esta vai acorrentar A atenção de vocês.”Mais adiante, no meio da aventura o poeta :
“Reiniciamos a descida Na galeria de lava. Ia tudo muito calmo Por onde a gente passava E, até o meio dia, A paz nos acompanhava. Depois dali nós chegamos Perto duma encruzilhada, Marchamos pro lado leste, A rota mais indicada Além de ser muito escura Vez por outra era apertada.”Desde o Ceará até o Rio de Janeiro e espalhado pelo mundo, a literatura de cordel está presente em todas as suas formas, desde folhetos tradicionais e até o mundo virtual, sempre aguçando a sensibilidade e curiosidade dos leitores. “A Peleja do Violeiro Magrilim com a formosa Princesa Jezebel” é um exemplo de sensibilidade e pesquisa. Seu autor Fábio Sombra nos estimula e provoca risos nesta peleja entre a princesa Jezebeu e o plebeu Magrilim, que desafia o destino traçado pelo cruel Percival, pai da princesa.
Por que Vossa Majestade Nosso rei não anuncia Que a mão de vossa filha Será dada em cortesia Ao violeiro que vence-la Num torneio de poesia? (…) Muito humilde e respeitoso O magrelo disse então: Não é luxo, nem riqueza Que me tocam o coração. Quero o amor de sua filha Essa sim é minha ambição…(…)O livro é muito divertido e traz belíssimas ilustrações feitas pelo autor, pois além de ser poeta e pesquisador do folclore brasileiro, Fábio Sombra é também o ilustrador e um dos nomes mais respeitados em Arte Naif contemporânea brasileira.
Francie ficou encantada com o livro: “Os comedores de palavras”, dos autores Edimilson de Almeida Pereira e Rosa Margarida de Carvalho Rocha. O livro narra um conto sobre a prática de contar histórias do povo africano. O livro traz também sugestões de atividades para o leitor.
Enquanto esperam que as crianças brinquem bastante, até à exaustão, os pais aproveitam o espaço de leitura com o seu acervo, jornais do dia e as revistas semanais. Ai, ai…”quem lê tanta notícia”…?
Enquanto isso, no grande lago de Toronto, os peixes aproveitam os pedacinhos de pão que lhes são oferecidos…
E para finalizar, eu, Margarete Barbosa escrevi e compartilho com vocês:
Domingo de Inverno Um sol sem ser ardido brilha sobre o gramado aquece a criança o lago os marrecos as papoulas. O domingo de inverno estando bem aquecido convida ao lúdico das crianças e seus pais. O adulto traz a criança pelas mãos no coração Brinca Ri Chora Não quer ir embora.
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